Relembrando o Muro pela Paz e Não Violência, de 2009.
Fig.1 Ilustração gerada por IA.
A pintura Pela Paz e Não Violência se deu em 2009 sobre um extenso muro branco próximo à Vila do João, Maré. Convidamos alguns grafiteiros ativos na época, locais e de renome na cidade.
Em trinta de janeiro de 2025 recebi um e-mail de uma historiadora e curadora, perguntando a respeito de um velho mural de 2009, o que me animou a relembrar daqueles dias e me dar conta da atualidade do tema do desarmamento nuclear, da desmilitarização, mais em voga do que em 2009 e do que nunca!
O Muro pela Paz aconteceu no contexto da Marcha Mundial pela Paz e Não Violência, que foi um evento global que ocorreu em 2009, com o objetivo de promover a paz, a não violência e o desarmamento nuclear.
A marcha fez uma série de atividades que aconteceram em diversas cidades ao redor do mundo, organizadas pelo movimento Mundo sem Guerras e sem Violência.
Fig2. Logo da Marcha, em sua primeira versão.
A iniciativa teve início em 2 de outubro de 2009 (aniversário de Mahatma Gandhi) na Nova Zelândia e percorreu mais de 90 países, terminando em 2 de janeiro de 2010 na Argentina.
No Rio de Janeiro, a marcha contou com a participação de ativistas, organizações sociais, estudantes e cidadãos que se reuniram para chamar a atenção para a necessidade de um mundo mais justo e pacífico.
Os principais objetivos da marcha incluíam:
1. Promover a cultura da paz e da não violência.
2. Exigir o desarmamento nuclear global.
3. Reduzir os gastos militares e destinar esses recursos para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
4. Fomentar a resolução pacífica de conflitos.
Em 2009 inventei junto com Vinicius Pereira e Jacqueline Melo, da organização da Marcha Mundial Pela Paz, a ideia de um Muro Pela Paz. Vini, morador de Bonsucesso na época teve facilidade de encontrar um muro de bom tamanho.
A Marcha, organizada pelo Movimento Humanista, do qual faço parte desde 1997, percorreu trinta países, da Europa, Asia, América Latina e Estados Unidos, promovendo o desarmamento progressivo, o diálogo intercultural e religioso e o desmantelamento das armas nucleares, a partir de mobilizações de rua, campanhas publicitárias e petições junto à ONU, em parceria com a ICAN (International Campaign to Abolish Nuclear Weapons).
Tudo isso bem antes do relógio do “fim do mundo” estar com seu ponteiro bem perto de meia noite, como agora. Para quem não conhece, a metáfora do ponteiro é que quanto mais perto de meia noite o ponteiro está, mais próximos estamos de um conflito nuclear generalizado.
No Rio de Janeiro, promovemos no Cristo Redentor, um encontro inter-religioso, juntando lideranças de religiões de matrizes afro-brasileiras, católicas, evangélicas (neopentecostais), palestinas e judaicas, todas em uníssono buscando promover o diálogo e os pontos em comum, a convergência na diversidade, que é um dos princípios do humanismo universalista: uma Nação Humana Universal.
Fig.3 Humanistas em evento no Cristo Redentor, finalizando a Marcha Mundial Pela Paz de 2009
O Humanismo Universalista do qual se trata aqui, é diferente do humanismo estudado nos livros de história; é um fenômeno dos anos sessenta e latino americano; foi fundado em 4 de maio de 1968 , aos pés do Monte Aconcágua, na Argentina por um pensador chamado Mario Rodrigues Cobos, ou simplesmente Silo (seu apelido, devido ao seu aspecto corporal comprido e alto) que reuniu naquela paisagem deserta ao redor de trezentas pessoas: sua proposta é de que não há como acabar com os conflitos do mundo somente pela via política, nem somente pela via da transformação interior, mas através de ambas em conjunto.
Para Silo a transformação social passa por uma transformação pessoal e social simultaneamente; através da ação coerente sintetizada no aforisma – “pensar, sentir e atuar na mesma direção” e atuar em seu meio imediato, entre vizinhos, no ambiente de trabalho e as pessoas que estão ao redor.
Fig.4 Logo da terceira versão da Marcha Mundial Pela Paz.
A terceira Marcha Mundial Pela Paz.
Hoje, A Marcha chegou no final de sua terceira versão justamente em janeiro de 2025, quinze anos após a primeira, com sua relevância aumentada, devido a iminência da guerra nuclear. A projeção deste momento do mundo estava colocada pela Marcha desde 2008 quando foi lançada a primeira marcha mundial pela paz. E veja bem, na época o tema parecia obsoleto, tão distante, “anos oitenta” e “guerra fria”, quase artigo de museu; ao contrário de 2025, quando parece estar mais próximo do que nunca.
Durante o evento do G20, no Rio de Janeiro em novembro de 2024, integrantes da Marcha participaram sob chuva do ato massivo em prol do cessar fogo, da causa palestina e da soberania dos povos.
Como as ogivas nucleares estão de volta à ordem do dia é urgente as vozes pacifistas e antifascistas se fazerem ativas, porque os ensandecidos estão à solta e em performance belicosa cada vez mais debochada e mentirosa.
A Marcha Mundial Pela Paz não fez estardalhaço nem nunca contou com grandes financiamentos. A voz de um David frente a um Golias que hoje é capaz de impôr o fim da aventura humana na Terra.
Sobre o autor:
Carlos Contente é artista plástico e pesquisador . Escrevo artigos sobre artistas emergentes e sobre movimentos sociais no site Pressenza Agência Internacional de Notícias. O site pessoal é o www.carloscontente.com.br
Links externos:
Sobre a Marcha Mundial Pela Paz, veja: https://www.pressenza.com/pt-pt/2009/03/marcha-mundial-pela-paz-x-lanxada-com-tambores-no-rio-de-janeiro/ ou a nota https://g1.globo.com/Noticias/Rio/0,,MUL1421322-5606,00-MARCHA+MUNDIAL+PELA+PAZ+E+NAOVIOLENCIA+CHEGA+AO+RIO.html
Site oficial da Marcha Mundial Pela Paz e Não Violência: https://pt.theworldmarch.org/
Sobre a marcha leia: 9/12/19/marcha-mundial-pela-paz-e-nao-violencia-reune-centenas-de-pessoas-no-rio.htm
Para fontes fidedignas sobre a obra de silo acesse: http://www.silo.net/es
Informação fidedigna sobre a terceira marcha mundial pela paz em https://pt.theworldmarch.org/
Sobre Reconciliação e superação do desejo de vingança, há uma nota interessante da Equipe de Base Warmis em https://warmis.org/artigos/raizes-da-vinganca
Artigos de Carlos Contente na Pressenza agencia internacional de notícias. https://www.pressenza.com/pt-pt/author/carlos-contente/